Uma das grandes questões do cristianismo é a fé num Deus pessoal. O Deus da tradição judaico-cristã não se apresenta como uma energia impessoal e distante, nem como mero arquiteto do universo que após concluir sua obra desapareceu sem dar notícia. A Bíblia também não apresenta um Deus que é tudo. Mas, um Deus que criou todas as coisas. Compreender que Deus é alguém com quem posso me relacionar é de fundamental importância. Me liberta de uma fé meramente subjetiva, doutrinária, legalista, baseada em conceitos e regras frias. Saber que Deus é pessoa me ajuda a compreender que fé não é algo em si mesmo. Não basta ter fé na fé. Pois a fé que não tem alguém em quem crer, se torna em nada. Assim, posso conhecer-me melhor graças ao outro e, eu sou o que sou graças a Deus.
O ser humano é um ser comunitário. Porém, mantém a sua individualidade. Formamos a nossa identidade e nos encontramos nos relacionamentos com nosso semelhante. No entanto, não deixamos de ser nós mesmos por mais que nos envolvamos com a humanidade das demais pessoas. "Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou: homem e mulher os criou" (Genesis 1. 27). Sabemos quem somos e o que somos. sabemos a fonte da inspiração que nos criou. Sabemos quem foi o modelo original que refletiu a imagem do que somos hoje. Deus serviu ao mesmo tempo de molde e artesão na criação do ser humano. Como você se relaciona com as pessoas que você ama? Como se elas fossem energias sem personalidade!? Como se fossem uma fonte de recursos a serem explorados!? Como se fossem uma espécie de massa ou energia sem vontade própria!? Como alguém que existe somente na sua imaginação!?
Num relacionamento é preciso, no mínimo, pressupor um outro dotado de sensibilidade, vontades, personalidade, caráter, história e vida, assim como eu. Ninguém se relaciona com uma outra pessoa da mesma maneira que se relaciona com seu computador, com o sofá ou o cachorrinho. Ninguém interage com pessoas do mesmo modo como o faz com a lua, com o vento ou as árvores. Até mesmo as pessoas nós as consideramos em suas particularidades. Por que então achar que Deus pode ser tratado como um moleque de recados? Ou, um mordomo bem mandado? Com que fundamento acreditamos que Deus se ativa graças a algumas palavras corretamente recitadas? De onde as pessoas tiraram que Deus é uma energia impessoal a espera das palavras mágicas para fazer as coisas acontecerem? Quando Deus se transformou num bobão que gosta de ser bajulado e agradado para retribuir com carro zero, mansões e iates? Quem condenou Deus a viver no fundo de um poço dos desejos aguardando as moedas atiradas para conceder sorte aos mais generosos?
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