Muitas vezes as nossas tentativas para compreender as coisas que acontecem à nossa volta podem gerar absurdos. O esforço para emitir uma opinião que ajude a esclarecer ou confortar pode acabar piorando a situação. O caso recente do massacre na escola em Realengo no Rio de Janeiro é exemplo disso. Os meios de comunicação exploram o caso exaustivamente. A cada vez que reconstituem o episódio acabam fazendo o país reviver a dor daqueles momentos trágicos. Inúmeros especialistas desde as áreas de segurança até da psicologia foram chamados a dar esclarecimentos. A internet e os jornais impressos também trazem vários textos procurando dar explicações e apontando soluções. Com as investigações e a cobertura da mídia, o rapaz que efetuou os disparos vai ficando cada vez mais conhecido por todos. Assim, duas linhas de reflexão vão gerando diferentes esforços para responder a esse tipo de evento.
Morreram 12 crianças e outras 10 ficaram feridas por disparos de uma arma de fogo. Por um lado, muitas reações apontam para a questão da segurança nas escolas. No entanto, uma questão aqui é: será que alguém determinado a matar e, possivelmente, ganhar notoriedade com a repercussão do caso mesmo após a morte, não faria o mesmo em outro local se não tivesse acesso a escola? Na Holanda, dois dias depois do caso em Realengo, aconteceu algo semelhante num Shopping Center. Por parte dos governantes, no Brasil, uma das reações consiste em antecipar a campanha de desarmamento. Além da segurança pública, outra pauta segue na direção do indivíduo. Quem era Wellington Menezes de Oliveira? Como e por que um ser humano chega a uma atitude extrema como essa? Mais uma vez as respostas se multiplicam.
Todas as medidas são bem intencionadas e podem cooperar de fato para aumentar a segurança e prevenir novos atentados. Porém, o fato inegável é que com passar do tempo somos surpreendidos com notícias cada vez mais chocantes. A violência (física, verbal, moral, sexual) não tem diminuído. Reduzir as armas de fogo é uma medida válida. Mas, não podemos nos esquecer de uma coisa: quem mata mesmo é o ser humano. Armas são apenas instrumentos em nossas mãos. Assim como temos em nossas mãos computadores, carros, facas, dinheiro e canetas. Nenhum destes instrumentos é capaz de produzir qualquer coisa sem a manipulação humana. Penso, então, em outras questões: O que faz com que diferentes pessoas deem diferentes finalidades aos recursos que têm à disposição? Que tipo de sociedade tem gerado pessoas capazes de matar crianças inocentes e, no fim, acabar com a própria vida numa atitude absurda à compreensão de muitos? Como cada um de nós tem utilizado os instrumentos e recursos em nossas mãos? Onde passar a linha que divide o mundo entre vítimas e vilões? Isso é realmente possível? Talvez, muitos textos e falas, inclusive essa, não passem de mais uma tentativa de fugir às responsabilidades pessoais. O culpado é o outro.
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