Conforme ficou evidente nos textos anteriores, vínhamos falando sobre um tema recorrente entre os cristãos: o discipulado. Embora possamos encontrar diversas maneiras de interpretar e definir o discipulado, fato é que não há como entender melhor seu significado do que quando decidimos olhar para Jesus.
Refletindo a respeito da passagem bíblica de Lucas 9.57-62, o teólogo Dietrich Bonhoeffer nos auxilia na identificação de três candidatos ao discipulado que encontravam-se entre a multidão que costumava juntar-se em torno de Jesus. Vamos analisar com mais detalhes estes três perfis que o texto nos apresenta!
O primeiro deles poderíamos caracterizar como o voluntário. Este primeiro homem, conforme nos relata o texto, chega a Jesus e diz: “Eu te seguirei por onde quer que fores” (Lucas 9.57).
O destaque, aqui, está exatamente no fato de que não houve um chamado aparente de Jesus. Aquele homem surge como alguém que se voluntaria a seguir Jesus. Temos, portanto, um primeiro perfil de cristãos que confundem o discipulado com algo cujo a iniciativa pode partir de si mesmo. É o voluntário. Aquele que se prontifica.
Seria injusto se eu agora quisesse julgar as motivações daquele homem. Pode ser que sua motivação fosse até sincera. De tudo que viu e ouviu, seguir esse Jesus poderia ser uma aventura interessante. Sua causa é nobre e fazer parte disso certamente é algo bom. Quem não gostaria de ser identificado como alguém que se colocou 'do lado do bem'!?
Você que é líder ou pastor numa igreja local, imagine sua reação se algum estranho chegasse e manifestasse o desejo de integrar a sua comunidade. Certamente você ficaria feliz e faria de tudo para receber bem essa pessoa. Faria de tudo para incluir ela e fazer com que se sentisse bem.
Quem imaginaria uma repreensão!? Alguém pensaria em dizer algo que pudesse afugentar essa pessoa? Você pensaria em criar alguma dificuldade para este homem que se prontifica tão diretamente?
A resposta de Jesus parece indicar que ele não estava assim tão interessado em voluntários dispostos a estarem com ele em alguns bons momentos: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Lucas 9.58).
Jesus pega pesado com o voluntarismo: Você tem certeza daquilo que está dizendo? Jesus dá a real! Há momentos que seguir a Cristo implicará em viver de forma mais desconfortável à vida de muitos animais. Pouco antes, Jesus fora impedido de atravessar a região de Samaria. Ele já fora expulso da Sinagoga. Além de críticas, rótulos e ameaças verbais, Jesus logo experimentaria a mais dolorosa violência em seu próprio corpo!
Em tempos de bonança pode ser muito fácil seguir Jesus, figurar entre aqueles que se declaram cristãos, desfrutar de certo status, passar um ar de piedade e compromisso.
Jesus, no entanto, busca discípulos legítimos, dispostos a uma caminhada de risco. Mais adiante, no capítulo 14 de Lucas (v. 25ss.) Jesus mais uma vez chamará a atenção para que se calcule bem o preço do discipulado. Jesus espera por um compromisso radical!
Discipulado não é voluntarismo. Discipulado não começa com um chamado a si mesmo. Discipulado é sempre uma resposta ao chamado de Jesus Cristo.
O voluntário até pode ser muito sincero em seu impulso que o leva a se dispor. Mas, Jesus quer uma resposta consciente. Não podemos nos deixar levar pelo mero entusiasmo, pela moda, porque se dizer gospel ou cristão agora é pop, porque meus amigos fizeram, porque tá todo mundo seguindo ou coisas assim! Não basta ficar impressionado por Jesus! Segui-lo implica em renúncia e abnegação. Se segui-lo, ele vai podar algumas coisas na sua vida!
Ah, você quer? Tem certeza? “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”
Esta foi a resposta de Jesus ao voluntário. Andar com Jesus trará consequências, as mais diversas!
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