No Evangelho de João encontramos um episódio incidental que revela muito sobre Jesus. Na viagem entre a Judéia e a Galiléia Jesus de repente encontra-se sozinho num antigo poço onde os samaritanos retiravam água. Existe um preconceito histórico dos judeus para com os Samaritanos. Os Samaritanos eram um povo resultando da mistura dos judeus que restaram no reino do Norte (Israel) com outros povos que o Império assírio havia enviado para ocupar aquelas regiões na época do exílio. Eles sequer consideravam Jerusalém como cidade sagrada onde adorar. Adoravam no monte Gerizim. A discriminação dos judeus puro-sangue com todo o desprezo racial e religioso foi se construindo ao longo dos anos e aparece fortemente em diversas passagens do Novo Testamento.
Enquanto Jesus descansa e espera os discípulos que foram comprar alimentos, surge uma mulher que vem retirar água do poço. Jesus, então, pede água àquela mulher. O espanto da mulher revela que Jesus estava quebrando um grande tabu: Ele não só fala com uma pessoa de Samaria como ousa dirigir-lhe um pedido. Jesus rompe com todos os preconceitos, não discrimina e, ainda, ignora qualquer preceito que alguma lei religiosa prescrevesse naquele caso. Jesus faz o que nenhum 'bom' judeu ousaria fazer. Ele rompe a limitação racial, etnica e religiosa. Ele se dirige a uma samaritana. E, mais: Além de ser dos samaritanos, trata-se de uma mulher. A cultura hebraica também era extremamente patriarcal. O homem era o chefe da família ou do clã. A mulher era uma propriedade do homem. Elas deviam se cobrir com véu e em hipótese alguma dirigir a palavra a um homem. Deus, por exemplo, jamais aparece comparado a uma mulher. Deus é Pai, é Senhor e não mãe ou senhora. A mulher não podia ter propriedade, não tinha direito de receber instrução. Diz-se até que havia uma oração específica na qual o homem dava graças a Deus por não ter nascido mulher. E, além de Jesus conversar com alguém de origem impura e ainda mulher, o texto dá a entender que se tratava de uma pessoa com outros motivos para ser desprezada na cultura da época. Devido ao calor e o sol escaldante daquela região, ninguém saia para buscar água a uma longa distância em pleno meio dia. Só mesmo alguém que quisesse evitar a companhia de outras pessoas sairia na hora mais quente do dia. Sua história com vários homens fazia dela uma adúltera, uma prostituta quem sabe!?
Lendo todo o texto de João 4.1-43 vemos que aquele encontro com Jesus transformou radicalmente a vida daquela samaritana. E, seu testemunho levou à transformação de muitos outros concidadãos. Aprendemos que Deus não se prende a ritos, fórmulas ou lugares especiais. Tampouco pertence a um povo, grupo ou classe especial de pessoas. Nunca mais aquela mulher esqueceu aquele encontro inesperado no poço de Jacó. Sua alegria não podia ser contida. A maneira como sai correndo, deixando para trás o seu cântaro, e vai contar aos outros sobre aquele "homem que me disse tudo o que tenho feito" mostra que o seu passado parecia não assombrá-la mais. Sequer cogitou a possibilidade de não ser levada a sério. Ela que andava solitária, às escondidas, enfrentando o sol escaldante para deixar os outros em paz, agora sai gritando pela cidade para quem quisesse ouvir. Sua transformação foi tal que impressionou muita gente a ponto de muitos saírem da cidade para irem até o local onde Jesus estava (Jo 4. 30).
E, falando de felicidade, parece que a alegria de Jesus também era tanta que ele até esqueceu a fome (Jo 4. 31).
Fato é que "muitos samaritanos daquela cidade creram" no testemunho de alguém que até então era invisível naquela sociedade (v. 39). "Ele me disse tudo o que tenho feito". Ele me conhece como ninguém e, ainda assim, me considerou, me acolheu, me amou! Minha vida foi transformada!
Em nome do amor Jesus quebra todos os tabus necessários.
Um comentário:
amém! gostei bastante do texto e era exatamente aquilo que procurava.
Jesus quebrou muitos tabus sociais e nós, cristãos, devemos anunciar isso para as pessoas.
o discurso de ódio que muitas vezes vêm das próprias pessoas que se dizem cristãs não devem representar aquilo que somos. Jesus, como sempre, nunca descriminou ninguém. pelo contrário, amou a todos, foi paciente e cheio do fruto do espírito!
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