É cada vez mais comum ouvirmos alguém dizendo que possui um lado espiritual independente de religião. A intenção da frase e, o que geralmente compreendemos, é que a pessoa cultiva uma certa espiritualidade sem frequentar programas promovidos por instituições religiosas. Trata-se de alguém, por exemplo, que não é filiado e nem mesmo frequenta uma igreja. A grande questão aqui, porém, é se realmente é possível para alguém ser autônomo ou independente da religião. Para refletirmos melhor sobre isso precisamos compreender bem o que queremos dizer quando falamos do religioso. Trata-se de muito mais do que meros programas ou instituições. Ser religioso é algo que vai além de ser budista, islâmico, judeu ou cristão. As instituições, os programas e os ritos poderiam ser classificados como formas de dar expressão á nossa religiosidade. E, mais do que isso, religiões são sistemas que sintetizam uma determinada filosofia de vida que procura oferecer uma compreensão de mundo.
Desde sempre o ser humano procura explicar o mundo de forma que este faça sentido para ele. Os mitos, a religião e a ciência são os instrumentos que servem a este propósito. Porém, a partir da Modernidade passou-se a acreditar que apenas a ciência possuía a autoridade para dar essa explicação. Testemunhou-se uma grande evolução na ciência e tudo aquilo que cheirasse à religião deveria, no máximo, ser relegado à vida privada. Logo a religião passou a ser vista como obscurantismo, fanatismo e até mesmo ingenuidade. Assim, o religioso nada tem a dizer sobre as coisas da ciência. Religião é coisa privada. Ciência é coisa pública. Argumentar sobre qualquer assunto utilizando-se de algo que ao menos cheire a religião já é motivo para ser desacreditado. Mas, será que existe mesmo alguém que não seja religioso?
Vejamos um exemplo prático. Se alguém disser que Deus criou o mundo, essa pessoa poderá facilmente ser acusada de fazer uma afirmação religiosa. Se Deus não é a origem, o fundamento, a realidade primeira, então quem ou o que será? As outras respostas para essa questão não seriam igualmente religiosas? Respostas como: tudo o que há sempre existiu ou; não há Deus algum ou; tudo é matéria; etc... O que torna essas respostas mais ou menos religiosas do que aquela que admite um Deus na origem de todas as coisas? Portanto, será que religião e ciência estão mesmo assim tão distantes. Ou, somos todos seres religiosos e, a diferença é que alguns procuram aprender por meio da ciência e outros preferem permanecer com as explicações mais simplistas da realidade!?
Um comentário:
O futebol, por exemplo, é um tipo de religião, em nosso país. Os torcedores crêem que o que acontece nos gramados seja a verdade, por isso louvam seu time e idolatram jogadores. Os cultos ao esporte acontecem todas as quartas e domingos (como manda a rede globo). Os religiosos deixam o seu dízimo na porta dos estádios (ou o dízimo do seu tempo semanal em frente a TV). Há que se ter uma boa dose de fé para acreditar que os resultados não sejam combinados por cartolas que enriquecem subtamente.
niño
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