Um dos importantes legados da Reforma Protestante do século XVI foi, sem dúvidas, a ênfase de Martinho Lutero no sacerdócio geral de todos os cristãos. Tornou-se, por isso, um ponto importante na confessionalidade luterana. Mas, o que isso quer dizer exatamente? O que significa, afinal, o sacerdócio geral? Lutero queria dizer, basicamente, que não há qualquer distinção entre os cristãos. No período medieval tornou-se popular uma ideia de que aqueles que possuíam funções clericais eram mais nobres ou espirituais do que as pessoas que trabalhavam na lavoura, como artesãos ou em serviço doméstico. O fato de as pessoas desempenharem tarefas diferentes no dia a dia não significa que isso faz de alguém um ser superior a outro.
Assim, Lutero entendia que mediante o batismo todo cristão é um sacerdote. Quando necessário, mesmo que não seja o seu ofício cotidiano, o cristão pode e até mesmo deve assumir tarefas consideradas eclesiásticas. Pois todo serviço é uma atividade em favor do próximo. Foi no texto de 1 Pedro 2. 9 que Lutero encontrou uma base bíblica que o deixou ainda mais convicto sobre isso: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Não há, portanto, uma hierarquia entre os cristãos. Ninguém precisa de um pastor, um padre ou mesmo um papa para intermediar a sua relação com Deus. Se há alguma distinção entre os cristãos, esta se dá tão somente no âmbito das diferentes funções que somos chamados a desempenhar em serviço no reino de Deus. No mais, pastores e “leigos” estão em pé de igualdade.
Portanto, a salvação não se dá pela instituição eclesiástica ou pela figura de um sacerdote intermediário. Todos são diretamente reconectados com Deus por meio de Jesus Cristo. Uma consequência direta dessa compreensão é que a interpretação das Escrituras não é mais monopólio de alguns especialistas. O poder é descentralizado e a comunidade valorizada. Sempre que alguém hoje se levanta reivindicando uma autoridade especial ou se declarando ‘o ungido’ intocável, lembre a essa pessoa que esta é uma ideia medieval há muito superada. Os ministros ordenados são importantes e tem a sua função. Mas, eles não têm autoridade para se autodeclarar como tais. A ordenação é algo que se recebe e não uma conquista pessoal que se autolegitima.
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