No texto que apresenta o Cristo transfigurado vemos que o desejo de Pedro era permanecer naquele monte: “Que grande momento! Que tal se eu construísse três memoriais aqui na montanha – um para o senhor, um para Moisés e um para Elias?” (Mateus 17.4). Jesus, no entanto, não embarca na empolgação de seu discípulo. O filho de Deus não permanece alheio ao que acontece no sopé da montanha. Seu lugar não é no alto, sendo idolatrado por quem gostaria de coloca-lo em tendas, templos, pedestais, memoriais. Jesus não aceita ser adorado como um ídolo indiferente à realidade. Ele não deseja ser cultuado numa relação vertical, alheio ao mundo e suas dores. Jesus não se prende a lugares, ele é guiado pelo amor às pessoas. Jesus não deseja ser reverenciado como quem resplandece como um Deus, mas, espera que confiemos nele para vivermos como agentes do seu reino ali onde nós estamos.
Jesus não se importa muito com o espetacular. Ele nos encontra no ordinário, nas nossas lutas diárias. Ali, ao pé da montanha, os outros nove discípulos já haviam esgotado seus recursos. Fizeram de tudo e nada conseguiram para ajudar àquele pai com o seu filho. Podemos imaginar os dias difíceis que a família daquele jovem passava com ele nessa situação. Não podiam descuidar um minuto. O menino se feria, se jogava ao chão e até no fogo. Tinha convulsões. Quem de nós não conhece situações assim, de dor, de desespero, de angústia e opressão? Jesus se aproxima e o pai do menino relata os acontecimentos. Jesus não faz nenhum espetáculo público com a dor e o sofrimento daquela família. Jesus age discreta e objetivamente. Jesus removeu a montanha, desceu a montanha... encontrou-se com a realidade de dor e sofrimento, comoveu-se, compadeceu-se e, assim, o reino de Deus se manifestou afastando as trevas. Eis o verdadeiro milagre.
Lá no alto, tudo era normal. Lá não houve nenhum milagre. Aquilo lá era a realidade do reino na sua plenitude. Lá embaixo, não. Ali o reino se manifestou contra os poderes infernais. Um contraste se fez visível! Onde o reino de Deus se manifesta, o reino das trevas precisa recuar. Ainda não nos é dado o direito de permanecermos no monte. De vivermos a plenitude do reino. Ainda estamos vivendo dois reinos sobrepostos. Enquanto isso, oremos “venha o teu reino” e, nos empenhemos como agentes deste reino! O reino ainda não é pleno, mas os seus sinais estão por toda parte.
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