Costuma-se dizer do egoísta que ele vive em torno do próprio umbigo. O egoísta seria aquele sujeito ingrato que não reconhece que já foi ajudado por alguém. É aquele que acredita ser merecedor de tudo o que já fizeram por ele. Olhar para o meu próprio umbigo me remete ao verão do ano de 1976. Foi num dia 1º de fevereiro no ainda distrito de Vila Valério, norte do estado do Espírito Santo. Não que eu seja capaz de lembrar-me do dia em que eu nasci. Apenas sei o que me contaram. Com a vida, no entanto, aprendi que as pessoas não são encontradas em bananeiras no fundo do quintal. Nem mesmo são trazidas por cegonhas ou coisas assim. Olhar para o meu próprio umbigo deveria ser não tanto uma expressão do meu egoísmo, mas, um sinal, uma lembrança de que eu jamais me faria sozinho. Não precisamos do umbigo para ser egoístas, simplesmente o somos. É o umbigo, portanto, que me ajuda a ser menos ensimesmado.
Fui gerado, cuidado, carregado, alimentado, feito durante nove meses dentro do corpo de outra pessoa. Não há como eu compreender a minha vida senão como graça. Não escolhi existir. Hoje, não escolheria não existir. Outra expressão comum relacionada ao umbigo é utilizada quando as pessoas querem falar de independência ou autonomia: cortei o cordão umbilical. Lembro também, de há alguns anos, ter conhecido a mulher que serviu de parteira e auxiliou a minha mãe quando eu precisava nascer. Nem isso eu fiz, foi alguém outro que precisou cortar o cordão. Sim, quando olho para o meu próprio umbigo lembro a minha origem. É um sinal. Todos nós temos um umbigo. Ele me faz entoar com o salmista: “Ah, sim! Tu me moldaste por dentro e por fora; tu me formaste no útero de minha mãe. Obrigado, grande Deus – é de ficar sem fôlego! Corpo e alma, sou maravilhosamente formado! Eu te louvo e te adoro – que criação! Tu me conheces por dentro e por fora, conheces cada osso do meu corpo. Sabes exatamente como fui feito: aos poucos; como fui esculpido: do nada até ser alguma coisa. Como um livro aberto, tu me viste crescer desde a concepção até o nascimento; todos os estágios da minha vida foram exibidos diante de ti” (Salmo 139. 13-15).
Gratidão. Sim, a Deus, aos meus pais e a tantos outros sem os quais eu não estaria aqui. Quando olho para o meu umbigo, posso fazê-lo, sim, por puro egoísmo. Essa pode ser uma expressão utilizada para lembrar a minha verdadeira natureza que é egocêntrica, rebelde, ingrata. Refletir melhor sobre o umbigo, no entanto, pode ajudar-nos exatamente naquilo que sempre de novo precisamos. Não foi para o egoísmo e a ingratidão que fomos criados, nem é nisto que está a nossa felicidade. Assim, declaro também com o salmista: “Sê o meu Senhor! Sem ti, nada faz sentido” (Salmo 16. 2). Olhar para o meu umbigo ajuda-me a lembrar de onde e de quem eu vim!
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