A viagem de Pelotas à Florianópolis foi bastante tranqüila. Além de mim, estavam no carro a minha esposa Débora e o casal de amigos Deloir e Elizete com a filhinha Isabelle. O Encontro, que este ano foi no Hotel Morro das Pedras, é para mim prioridade todos os anos desde 2004. A viagem de volta corria no mesmo ritmo de tranqüilidade até às 11 horas da noite. Em pouco mais de uma hora estaríamos em casa. A chuva aumentara e a visibilidade da pista era bastante ruim. Os vidros molhados do carro e a luz dos veículos que vinham na direção contrária quase me fizeram perder o controle por duas vezes. De repente, uma pisada no acelerador e o carro não responde. Sim! Estávamos sem gasolina. Uma grande reta no meio da escuridão. Parei no acostamento. Estávamos ali, nós cinco, sem acreditar que isso pudesse ter acontecido. Fui surpreendido por confiar no histórico de consumo do carro e numa luz do painel que não acendeu. É claro que as condições de pista, o tempo e o cansaço também contribuíram para a desatenção. Mas, não adiantava nada buscar justificativas. Deloir e eu saímos do carro. Deixei o pisca alerta ligado e coloquei o triangulo sinalizador. Á frente havia sinal de vida. Uma esperança de socorro. Uma claridade no horizonte que indicava luzes acesas. Embora os celulares estivessem pegando, não sabíamos para quem poderíamos ligar a essas alturas. Decidi então caminhar em direção à luz. Saí entre passos de caminhada e corrida no escuro e debaixo de chuva. O frio nessa hora era apenas um detalhe.
O alívio começou quando a luz fortalecia e revelava vir de um posto de gasolina. Só mais uns 80 metros e chego lá. Toca o celular, é a Débora. Mal dou atenção a ela, já digo que tem um posto. O Deloir compartilhou depois que nessa hora foi alegria no carro: ‘Deus é fiel!’. O celular estava molhando, desliguei. Mal sabiam eles lá no carro que à medida que eu me aproximava mais do posto constatava a decepção: Fechado. Ao lado uma Lancheria: Fechado. Mas, ainda havia alguns clientes e a porta ainda não estava trancada. Entrei, molhado e ofegante... Olharam-me meio assustados. Logo expliquei o meu problema. Sugeriram-me ligar para o Posto Coqueiros que fica aberto 24 horas. O problema é que havíamos passado por ele uns 8 quilômetros. ‘Não tem problema, basta ligar que eles vêm e trazem gasolina’. Passei o telefone do Coqueiros para Débora e ela ligou. Enquanto isso, eu consegui uma carona de volta até o nosso carro. O motorista ainda se ofereceu para me levar até o Coqueiros para pegar gasolina. Mas, a Débora já me ligava dizendo que o posto já havia mandado alguém. Agradeci a carona e voltei ao carro no acostamento para esperar. Piadas e risadas para tentar disfarçar o nervosismo. Já calculávamos o quanto o cara do posto iria nos cobrar pelo socorro. Antes já havíamos conversado sobre dificuldades financeiras. O tempo passava e nada. Ligamos novamente. Descobrimos que o homem saiu do posto, mas, em direção contrária a nós. Falha de comunicação. Mais suspiros nervosos. Conversando, chamei a atenção para como as coisas estavam dando errado: acaba a gasolina, encontro logo um posto, mas está fechado, o socorro do outro posto sai na direção contrária... Lembrei então da expressão ‘largar a maçaneta’. Fiquei tranqüilo: ‘Deus está no controle’. As palestras do Encontro de Obreiros falaram sobre isso. Mal sabia eu que ainda tinha mais pela frente.
Depois de mais de uma hora esperando surge finalmente atrás de nós a luz que pisca sinalizando que vai encostar. Cinco litros de gasolina. É pouco. Não dá para arriscar seguir em frente e contar que vamos encontrar um posto aberto antes de o combustível acabar novamente. Disse ao homem que voltaríamos atrás dele até o Coqueiros. Sua caminhonete é rápida e logo some na chuva e na escuridão a nossa frente. Acelero e cinto o carro ziguezaguear... Aqua-planagem!? Diminuo a velocidade. Vejo a caminhonete parada nos esperando. Afinal, nós não havíamos pagado o combustível que ele trouxe, me disse o homem depois. Dei sinal de luz e ele logo desaparece novamente a nossa frente. Sim, ele tinha o pé pesado. Tento acelerar, mas, as coisas estão estranhas. Logo ouvimos o barulho: pneu furado. Atrás de mim ouço a expressão típica do Deloir: ‘Mas, o que é que é isso!?’ O apelo no carro era um só: “Não pare! Vamos até o posto!’ Tudo escuro, chovendo, vidros cada vez mais embaçados. Atrás, o risco de vir um caminhão que não conseguiria parar ao ser surpreendido com a nossa baixo velocidade... Que situação! Tirei para o acostamento ao ver uma luz a minha frente que poderia ser o posto e outra atrás de nós, que confirmou ser uma enorme carreta. No acostamento, poças de água que escondiam enormes buracos. E, finalmente, o Posto Coqueiros, mas, do outro lado da pista. Sem visibilidade, pneu furado, caminhões e carretas por todos os lados... atravessamos a BR. Nos arrastamos até a cobertura do posto onde os frentistas estavam nos aguardando. O pneu sobressalente estava debaixo das bagagens. O vento gelado cortava minha roupa molhada. Rapidamente os frentistas trocaram o pneu. A roda estava amassada. Provavelmente os buracos do acostamento. Confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha quando vi que o pneu furado era o traseiro direito, bem abaixo da entrada de combustível. Mais ainda quando no dia seguinte descobri que o furo foi um prego bem no meio do pneu... Por causa da chuva e do frio ficamos dentro do carro lá no acostamento enquanto o frentista que nos socorreu colocava a gasolina. Lembrei de novo do que ele me disse sobre ter esperado quando ficamos para trás: ‘Eu parei, você não tinham pagado, aí eu esperei pra ver...’ Mas, o importante agora era abastecer, e seguir viagem. O sono já se fora mesmo!
Deixei uma gorjeta para o frentista que saiu ao nosso socorro. Ele só cobrou mesmo o combustível que abastecemos. Partimos. Se soubesse teria dado mais um tempo ali. O desembaçador não dava conta de manter os vidros secos e a chuva aumentou ainda mais. Um caminhão guincho a nossa frente serviu de referência um bom trecho do caminho. A uma velocidade de 60 KM/h muitas carretas e carros iam passando em ultrapassagem dupla. Devagar e sempre. Chegamos em casa as duas horas da madrugada. Duas horas depois do que imaginávamos caso tivesse corrido tudo bem.
Enquanto tudo isso acontecia e todos os adultos se preocupavam, a pequena Isabelle dormia sossegadamente em sua cadeirinha no banco traseiro. Quando ela acordou já estávamos entrando em Pelotas. Isso me lembrou aquele episódio onde os discípulos estavam apavorados no barco em meio à tempestade. Enquanto isso, Jesus dormia (Marcos 4. 35 – 41). Esse mesmo Jesus que falou sobre sermos mais semelhantes às crianças (Mateus 18). Em Florianópolis ouvi sobre ‘largar as maçanetas’ do poder. Deus está no controle. Maçanetas ou volantes... Como é difícil largar! Como é difícil esperar e confiar!
“Entregue o seu caminho ao SENHOR; confie nele, e ele agirá” (Salmo 37. 5)
Um comentário:
Esta viagem de vcs, foi para mais um testemunho, de como Deus age em nossas vidas, quando caminhamos com ele.E, que ele quer sempre o nosso bem, ainda que pecadores.
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