Agradeço a todas as visitas e comentários! Seja bem vindo!!! Que Deus abençoe a tua vida!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Religioso

Não é apenas no âmbito reconhecidamente religioso que o ser humano cria seus ídolos. Uma vez que somos criados à imagem e semelhança de Deus que, assim, colocou em nossos corações o anseio pela eternidade (Eclesiastes 3. 11), nós buscamos sentido para a vida. Mesmo que as pessoas ignorem a Deus, insistam em rejeitá-lo ou mesmo afirmar que Ele não existe, o fato é que não há como fugir da origem. A imagem de Deus impregna a essência de nosso ser. Por isso, ao rejeitá-lo resta o desespero, a desesperança. E, não podemos viver assim. Logo, buscamos alternativas. Por mais que alguém se declare antirreligioso, permanecerá buscando sentido em algo. Permanecerá o desejo de explicar as coisas, de compreender a realidade, de ver tudo dentro de um escopo mais amplo. E, se a rejeição a Deus ou a incapacidade de conciliá-lo com o mundo concreto a nossa volta for muito forte, então, relegamos a Ele um mundo espiritual e privado, fora do mundo real em que vivemos. Dividimos o mundo em dois. Que Deus reine lá no céu enquanto nós vivemos como todo-poderosos aqui na Terra!

Não precisamos ser muito inteligentes para deduzirmos que uma atitude assim é fruto da descrença. Transformamos Deus num mito, um ser do qual as pessoas dependem para sentirem-se melhores. E que, por isso, toleramos desde que não se intrometa em nossas vidas. Há os que mantêm uma espécie de religiosidade privada, desencarnada, mística, separada do mundo e da realidade. E, há quem desconsidere a Deus totalmente, até ridicularizando a possibilidade da sua existência. O segundo grupo, no entanto, não deixa de ter os seus próprios pressupostos, o que os torna tão religiosos quanto os demais. É claro que não vão gostar disso e, por isso, não o admitem. Religiosos são os outros. Mas, é fato que somos todos religiosos, quer o reconheçamos por nossa confissão pública de fé num Deus pessoal, quer o expressemos em nossas ideologias que por fé adotam outro tipo de origem e fundamento de toda a realidade. É a partir dessa base assumida em fé que vão dar sentido à sua vida e explicar o mundo à sua própria maneira.

Com base no que temos dito aqui, podemos deduzir algo: vivemos entre a adoração a Deus ou a adoração a algum ídolo. E, este ídolo não se resume a uma imagem esculpida diante do qual acendemos uma vela ou fazemos uma promessa. Ídolo é tudo aquilo que toma o lugar de Deus como o único digno de adoração. Pois se Ele é o Criador e o fundamento de tudo, tudo o mais que alguém elege para ser colocado no lugar de Deus será menor do que Ele. E, esta coisa estará usurpando uma posição que não lhe pertence. Adorar não é apenas orar, cantar louvores, curvar-se fisicamente diante de algo. Adoramos aquilo segundo o qual vivemos. Vivemos segundo aquilo em que cremos. Não cremos no que confessamos, mas naquilo que revelamos com nossas vidas. Como você crê, assim você vive. Como você vive revela em que você crê (Mateus 7. 16).

Realidade

Apesar de muitas pessoas reconhecerem nos Dez mandamentos leis que representam a boa vontade de Deus, é ainda desconhecido para muitos o fato de que eles não resumem e nem encerram toda a lei de Deus. Por vivermos uma época em que as pessoas desvincularam a fé de toda racionalidade e do mundo natural, acabamos vendo a religião como alguma coisa intimista, relegada ao âmbito privado da vida de cada um. A fé cristã, no entanto, que pressupõe um Deus na origem e como fundamento de todas as coisas, não aceita essa privatização. Afinal, não existe nenhuma realidade, nenhum lugar, nada que fique fora do âmbito da ação e do conhecimento de Deus. Não existe absolutamente nada com o que Deus não se importe ou sobre o que Ele não possa nos instruir. Por ser um Deus pessoal e que se comunica Ele criou seres humanos que se comunicam e se relacionam. E, temos também a capacidade de criar, de investigar e de discernir. 

Apesar de não termos condições de saber todas as coisas de uma forma exaustiva, fato é que podemos conhecer. Temos acesso ao mundo e à realidade e sabemos que algo existe. E, somente porque sabemos que algo existe é que podemos também investigar essa realidade e descobrir coisas. É por isso que a fé cristã foi decisiva para a ciência moderna, por exemplo. Uma fé que não acredita na realidade ou que ignora o fato de que algo esteja aí para ser investigado, não poderia fomentar o estudo e a pesquisa investigativa. Não há como fazer ciência a respeito de uma ilusão. Por isso, a fé cristã não teme a dúvida, as perguntas e a ciência. Pelo contrário. A fé cristã não é um salto no escuro. Devemos utilizar toda capacidade que Deus nos deu para buscar respostas. E, somente depois, decidir. A fé não consiste em abrir mão do bom raciocínio. “Não pense, apenas creia”, é uma frase enganosa e sem fundamento na fé cristã.

Precisamos admitir que muitos cristãos têm vivido uma fé pela fé. Por não enxergarem mais a grandeza de Deus e a abrangência de sua vontade, sua fé se resume a ritos, chavões e práticas que mais se assemelham à religiosidade pagã que busca manipular o sagrado a seu favor. Compreender um Deus cuja criação revela o seu amor e se deixar moldar por sua vontade está fora de cogitação. Resta, assim, uma fé mesquinha e intimista que busca apenas aquilo que nos faça sentir melhor. Deus é diminuído ao ponto de não ser mais nada além de uma força espiritual que me massageia o ego e abençoa conforme eu lhe puder oferecer bons serviços religiosos, seja através de sacrifícios, participação em rituais ou oferendas, oferta de objetos ou dinheiro. Logo, não é mais o Deus todo-poderoso e criador do Universo a quem estamos adorando, mas, um ídolo que criamos e nutrimos em nossos corações.

Culpado

Por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus num mundo bom, os seres humanos sentem-se naturalmente culpados por não conseguirem viver conforme a vontade de Deus. É um sentimento de culpa que está lá, mesmo que não haja culpa real. Sentimo-nos deslocados dentro da realidade criada por Deus. Estamos como que desalinhados com relação ao Universo. Sabemos, muitas vezes, que algo está errado, mas, não encontramos palavras que expliquem este sentimento. É como se almejássemos mais, quiséssemos contribuir com algo digno, edificar algo que fizesse algum sentido... O ser humano é capaz das aspirações mais nobres e, também, das atitudes mais vis. Por isso, testemunhamos ao longo da história, a capacidade criativa do ser humano de dar existência às invenções mais fantásticas, a descobrimentos incríveis e a obras de artes arrebatadoras! Por mais culpados que sejamos ou nos sintamos, não perdemos totalmente a imagem e semelhança de Deus em nós.

Quando eu era criança morava próximo a uma represa. Meus pais sempre diziam que eu e meus irmãos não deveríamos entrar lá. Primeiro porque a água não era própria para banho e, segundo, por causa do risco de afogamento. Éramos crianças e não sabíamos nadar. Lembro-me que, certa tarde, depois de meu pai sair, eu e meus irmãos fomos escondidos da mãe e entramos na água. O fato de termos esperado o pai sair e o fazermos escondido já era suficiente para sabermos que estávamos desobedecendo. O friozinho na barriga e a tensão pelo fato de podermos ser descobertos a qualquer momento era, ao mesmo tempo, estimulante e denunciador. O clima era diferente do que quando brincávamos na sala à vista de todos. Ali, na represa, tínhamos a noção do risco, sim. Mas, outro sentimento estava presente: o medo de ser descoberto. Este segundo, talvez, fosse mais forte do que o medo das profundezas da água ou de suas impurezas.

O detalhe desse tipo de traquinagem é que sempre que as crianças são proibidas pelos pais de alguma coisa, elas têm uma resposta. A explicação geralmente tenta dizer que os pais é que estão errados: que nada, nem é tão fundo lá; mas, a água está limpa; eu vou ficar só no raso; é só uma vez; não é tão perigoso assim; já sei nadar; etc. Desde pequenos desenvolvemos a capacidade de racionalizar e argumentar de modo a provar que estamos certos e que sabemos melhor das coisas. Independente disso, sabemos que erramos. Nosso senso moral nos mantém conscientes da diferença entre o certo e o errado. Se a criança se afogar, as pessoas não vão criticar a existência de águas profundas, mas, onde estavam os pais. Não queremos ser cerceados em nossa liberdade a tal ponto de não podermos tomar as nossas próprias decisões. Não deveríamos, então, nos esquecer que o Criador de todas as coisas sempre está certo, mais do que as suas criaturas podem imaginar! A liberdade de escolha, porém, continua sendo nossa!

O Dilema Humano

Para os reformadores Martim Lutero e João Calvino estava claro que o ser humano é incapaz de seguir a vontade de Deus. Lembramos aqui, mais um vez, o dilema humano muito bem explicitado pelo Apóstolo Paulo: “tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo” (Romanos 7.18-19). Esta é uma verdade que podemos constatar se fizermos uma análise sincera de nós mesmos. Em quantas boas decisões que tomamos acabamos ficando só na promessa?

 Quando Deus revela a sua vontade nas tábuas de pedra (Êxodo 20), além de termos claro diante de nós a sua lei, somos confrontados também com a nossa incapacidade de cumpri-las. A nossa tentação é o de sempre criar as nossas próprias regras. Reconhecer o Deus criador e legislador acima de nós é demais para as pretensões de independência e autonomia que cultivamos. Por isso, diz o tolo em seu coração: "Deus não existe" (Salmo 14. 1). Como temos visto, a rebelião contra Deus é algo desde sempre. O tipo de mundo e sociedade que temos conseguido forjar com esta rebelião também é evidente.

A revelação da lei escrita de Deus faz parte do seu processo pedagógico para com o ser humano. Diante desta revelação só nos restam duas conclusões: somos falhos, limitados, finitos e incapazes de seguir esta vontade; a vontade de Deus é santa, boa, perfeita e agradável. Se pudéssemos viver segundo esta vontade, o mundo seria melhor para todos. Assim como respeitar a lei da gravidade é bom para a minha integridade física, não matar, não furtar e etc., é bom para o convívio social. Independentemente até, de relacionarmos isso a Deus, podemos constatar estas coisas pela simples observação da realidade. O problema é que confundimos a incapacidade de viver à altura ou, de não querermos isso, com a inexistência da norma. Como não queremos seguir certos preceitos, simplesmente os desprezamos, ridicularizamos ou relativizamos. Muitos, por quererem ao mesmo tempo, fazer as próprias regras e ainda manter uma ideia de Deus, recriam um deus caricato, à imagem e semelhança de suas próprias ideologias. Logo, não é mais Deus, e sim um ídolo que adoram.

Portanto, uma primeira função da lei é demonstrar que somos pecadores. E, assim, preparar o caminho para Jesus e a redenção. Somente diante da revelação da boa vontade de Deus é que podemos nos dar conta de que não estamos em condições de, por nós mesmos, cumpri-la. Como Paulo constata muito bem: “eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: Não cobiçarás’" (Romanos 7.7). É quando constatamos o que se espera de nós que ficamos face a face com as nossas deficiências. E, percebemos o quão distante estamos de Deus e de sua vontade. Logo, compreendemos o mal no mundo, muito mais do que um castigo, uma consequência de nossa corrupção.

A Lei Escrita

O próprio filósofo existencialista Jean Paul Sartre reconhecia que se um ponto finito não tiver um ponto de referência infinito, torna-se sem sentido e absurdo. Como falar de certo e errado, sobre bem e mal, sem uma referência acima de nós, seres humanos falhos e finitos? Se a vida humana não é originada em Deus, mas simples fruto do acaso, qual o problema com o aborto, com a eutanásia, com o assassinato? Se a referência for apenas o ser humano, de qual ser humano estamos falando? O rei Herodes? O conquistador Napoleão Bonaparte? Os deputados do nosso Congresso nacional? Qual é a referência para o certo e o errado? Por mais que alguém negue a existência de Deus ela sustentará algum tipo de moral, alguma compreensão de certo e errado. Se ela negar isso, experimente tomar algo que lhe pertença ou esbofeteá-la e você perceberá a reação.

Simplesmente existe a noção de certo e errado que é intrínseco ao ser humano. E, por que somos assim? Porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Apesar do pecado, não perdemos totalmente este juízo universal. Por causa da nossa duvida e incapacidade de discernir a Lei Natural e conviver em harmonia, Deus se revela de outro modo especial. No Monte Sinai Deus revela a Moisés a Lei Escrita em tábuas de pedra (Êxodo 20). Na primeira tábua estão as leis pelas quais devemos nos guiar em nosso relacionamento com Deus. E, na segunda tábua da lei, são revelados os deveres para com o nosso próximo, conforme o amor. Para que não permaneçamos reféns de nosso próprio arbítrio, Deus revela a Lei Escrita para que tenhamos um referencial acima de nós e que nos diga claramente qual é a vontade de Deus.

E Deus falou todas estas palavras: "Eu sou o Senhor, o teu Deus, (...) não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, (...). Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão. Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum (...). Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor teu Deus te dá. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não darás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença” (Êxodo 20.1-17). Quem, em sã consciência, negaria que se a humanidade seguisse ao menos essas poucas leis viveríamos num mundo muito melhor?

A Revelação Natural de Deus

Muitos criticam o judaísmo e mesmo o cristianismo de arrogância. Afinal, estes começam a sua história dizendo-se “escolhidos” por Deus. A arrogância dos judeus estaria em se dizer povo escolhido. Quanto aos cristãos, em crerem na exclusividade de Jesus como o caminho para a salvação. Este é um problema que não se resolve sem uma busca por compreender os meios da graça empregados por Deus. Se não fosse o povo judeu, teria que ser algum outro. Os judeus creem que Deus buscou revelar-se a todos os povos, mas, nenhum aceitou. Mesmo assim, basta uma leitura atenta ao Antigo testamento na Bíblia para percebermos que a graça e amor de Deus também se estenderam sobre pessoas de fora do judaísmo. Quanto aos cristãos, estes creem e ensinam que a salvação é para o mundo todo (João 3.16).

O Apóstolo Paulo ensina em uma de suas cartas que todas as pessoas do mundo têm diante de si a revelação de Deus. A própria criação de Deus o revela, pois “desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas” (Romanos 1. 20). E, isso, completa o autor, nos torna indesculpáveis. Por quê? “Porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal” (Romanos 1.21-23). Quando nos vemos diante de Deus, o adoramos ou o rejeitamos. Rejeitá-lo significa eleger em nosso coração outra coisa para adorar. E, trocar a verdade de Deus pela mentira, adorando e servindo coisas e seres criados, em lugar do Criador (Romanos 1. 25) é idolatria.

Temos, portanto, antes da revelação especial de Deus nas Escrituras e em Jesus Cristo, uma revelação natural. Ao nos deslumbrarmos diante das belezas e encantos do universo criado, estamos recebendo os vislumbres de Deus. Quando Deus escolhe se revelar mais de perto, Ele o faz dentro da história, numa determinada cultura, para um povo específico. Com isso Ele está demonstrando que a Criação é o nosso lugar e não algum outro nível plasmático num mundo além e improvável. Logo, algum povo teria que ser escolhido para receber e comunicar a revelação especial. Por causa do pecado, perdemos a sabedoria e a capacidade de discernimento para muitas coisas. E, embora a nossa consciência nos alerte em vários momentos, em sua graça Deus quis nos revelar a sua Lei Moral de modo claro. Assim, recebemos os Dez Mandamentos (Êxodo 20). E, em Jesus, o próprio Deus se dá a conhecer com todo seu amor e graça.

Veja Também:

Related Posts with Thumbnails