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sábado, 21 de abril de 2018

Retalhos

Minhas primeiras lembranças devem ser de quando eu tinha entre dois e três anos de vida. Uma casa de madeira, alta do chão, típica da época lá no norte do estado do Espírito Santo. Os colonos aproveitavam para utilizar aquele espaço debaixo da casa para guardar coisas. Também costumava ser um espaço para as crianças brincarem enquanto a mãe se ocupava com os afazeres domésticos.

Nesta época típica das descobertas e de muitas curiosidades, as crianças recebem as primeiras impressões da realidade para dentro da qual se descobrem. Lembranças que nos acompanharão por toda a vida. Cresci vendo a velha máquina de costura Philips sendo companheira de minha mãe. O trabalho de confecção das peças de roupas, tanto costuradas para nós, da família, quanto para atender encomendas de fora, sempre geravam retalhos, as sobras. Destes, minha mãe geralmente fazia tapetes e colchas. Quem nunca ouviu falar da colcha de retalhos!?

As lembranças de uma vida costumam se apresentar também assim, como retalhos que nos ajudam a montar um cenário maior. Quando deixo minhas lembrança resgatarem o passado, um destes retalhos me remete a uma cena que aparece bem clara em minhas memórias. Provavelmente seja a lembrança que mais longe me permite viajar ao meu próprio passado.

Lá estava eu, pequenino, brincando pelo quintal, nos arredores de casa. Minha mãe estava num velho tanque a lavar as roupas. Na época era tudo no braço. De repente, bem no meio de uma pequena moite de espada de são jorge, uma planta decorativa muito comum no Brasil, vi alguma coisa colorida que chamou a minha atenção. Para mim, mais um dos retalhos coloridos que minha mãe guardava para dar utilidade em momento oportuno. Sei ainda com mais clareza hoje, daquilo que me livrei naquele dia. Em vez de matar a minha curiosidade abaixando-me para pegar aquele retalho, perguntei antes à minha mãe o que aquele retalho colorido fazia ali.

Como todas as mães, também a minha não era de dar logo muita atenção às conversas de menino. No entanto, as boas mães sabem também que de criança a gente cuida. Especialmente numa época em que, devido à muita vegetação e presença de todo tipo de animais, o perigo pode estar sempre à espreita. Quando ela finalmente resolveu conferir o que era aquilo que despertara a minha atenção em meio à folhagem, constatou tratar-se, sim, de algo colorido e chamativo. Mas, aquelas tonalidades de preto, vermelho, branco e amarelo não vinham de um retalho de cetim, mas, o colorido de uma cobra coral.

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