Algumas reações em meio às tensões políticas dos últimos meses, no Brasil, deixam transparecer algumas curiosidades. A maior delas parece ser aquela que está gerando um efeito que poucos talvez esperassem ver um dia neste país. Até poucos anos atrás era muito comum que o grosso da população mantivesse uma opinião negativa, de crítica e suspeitas com relação aos políticos. Com o advento da internet e, especialmente com as redes sociais, atualmente desenha-se um novo quadro. Muitos têm defendido governos, políticos e partidos de forma apaixonada. As eleições de 2014 geraram debates acalorados que, inclusive, culminaram em amizades desfeitas, mágoas, ofensas e todo nível de baixaria. Tudo isso vai revelando um quadro ainda confuso aos olhos do observador. Estariam alguns políticos brasileiros mudando drasticamente suas atitudes? A velha máxima do “político ladrão” está em desuso porque cada vez mais nossos políticos tem se convertido à causa do povo, representando, de fato, o anseio dos cidadãos?
Basta um olhar mais atento para perceber que parece ser o contrário. Se os políticos não estão ainda pior, no mínimo, também não temos muita melhora (embora, quando se trata das pessoas envolvidas na política, existam obviamente exceções). A defesa apaixonada de políticos através de eventos, passeatas e manifestações na internet (desde redes sociais, blogues, sites de notícias, etc.) não costuma revelar uma análise coerente, pormenorizada, atenta às ideias e projetos (novamente reconhecemos as exceções). As redes sociais contribuíram para o fenômeno que faz com que as pessoas apenas precisem gostar de determinado tema e debater sobre ele para considerarem-se especialistas (cá estou eu, dando uma de... rs...). Não que seja errado ou um crime emitir opiniões. O que assusta mesmo não é isso. Pois, discordância, discussões acaloradas, debates e conversas sobre temas diversos do cotidiano sempre estiveram presentes nas rodas de boteco e outros fóruns populares. Embora não livre de certas exaltações e, até mesmo, atitudes mais radicais de violência, estas rodas da vida real permitiam uma proximidade com a própria realidade, com o outro de carne e osso, o olho no olho. No mundo virtual, devido a impessoalidade e consciência de não ser responsabilizado de forma mais direta, a violência e agressividade tornam-se mais evidentes.
Quando deixamos de ver o outro como pessoa, um ser humano, alguém criado à imagem e semelhança de Deus como eu mesmo o sou, para ver apenas a camiseta estampada, a bandeira empunhada, o discurso ideológico proclamado, e tantos rótulos que saltam de nossos teclados sem nem ao menos refletirmos sobre o que estamos atribuindo apressadamente ao “oponente”, então, um sinal de alerta deveria soar. Pode ser que alguma espécie de fanatismo já esteja nos dominando de tal forma que nossa luta passou, sim, a ser contra carne e sangue, em favor de potestades e dominadores deste mundo (Efésios 6. 12) que cativaram nossos corações de tal forma que não mais nos importamos em sacrificar família, amigos, enfim, seres humanos no altar de algum ídolo que nos escravizou. Se ainda nos resta algum sinal de lucidez, oremos para que Deus nos conserve humanos, sensíveis, e, com algum discernimento. Além se sermos seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, a cosmovisão cristã revela também que o pecado corrompeu a boa criação de Deus. Assim, somos todos carentes da graça e da misericórdia do Senhor.
Cientes da soberania de Deus, cuidemos para não absolutizarmos nossas convicções a tal ponto de não mais conseguirmos escutar, ponderar, refletir e, quem sabe, admitir que não somos os donos da verdade. Quem sabe, estejamos, sim, equivocados. Talvez eu mesmo, com este texto, esteja. O que importa, não é se devo ou não me manifestar, mas, o quanto estou também disposto a deixar que esta minha posição, tornada, agora, pública, possa sofrer, críticas, questionamentos, correções. Tudo isso, sem que eu considere o autor das opiniões contrárias um inimigo, mas, tão somente, um instrumento de Deus nesta confusa peregrinação humana onde, muitas vezes, não passamos de cegos querendo guiar outros... Neste sentido, sim, mas, sem querer justificar ninguém com isso, nossos políticos são reflexo daquilo que somos todos, enquanto indivíduos falhos, propensos a escorregar, corromper, fraudar, tirar vantagem, legislar em causa própria. A pergunta que fica, portanto, é: Como organizar uma estrutura e processos que protejam os cidadãos de si mesmos? A quem ainda prestamos conta!?
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