Eu vivi dezoito dos meus primeiros vinte anos de vida no campo (na roça como se diz no estado do Espírito Santo). Até então a minha vida se resumia a brincar, estudar e trabalhar na lavoura. De tudo que se pode fazer na lavoura eu já capinei, rocei, podei, plantei e colhi. A agricultura principal sempre foi o café. Mas, também plantei e colhi arroz, feijão, milho, cacau, melancia, abóbora, mandioca, amendoim, eucalipto, banana, abacaxi e diversas outras árvores frutíferas. Também já plantei e reguei muitas verduras, legumes e flores. O trabalho sempre foi braçal, tanto a colheita quanto a capina. Com a constante falta de chuva vi muitas colheitas serem frustradas. Nossa família nunca teve a sua própria terra, por isso, também não tínhamos condições para irrigar as plantações.
Dizem que a realização na vida acontece depois que a pessoa pelo menos tenha escrito um livro, tido um filho e plantado uma árvore. O livro e o filho ainda não aconteceram, mas, pelo menos, posso dizer que já plantei centenas de árvores. Com certeza, muitas delas devem estar dançando ao embalo do vento agora. Um dos prazeres de quem planta é ver a sua plantação crescer e produzir. Normalmente o agricultor e o jardineiro vão dar uma olhada no campo para acompanhar a germinação, o crescimento, a florada e os grãos e frutos se formando. Depois que lançou a semente na terra, a pessoa não tem mais muito o quê fazer. A tarefa principal consiste em esperar.
Todo ser humano deveria ter a oportunidade de plantar alguma coisa na vida. Experimentar a sensação de impotência e expectativa de quem semeou e aguarda ver os resultados. Uma virtude importante na vida de quem planta é a paciência e a confiança. Quando a gente vive na agitação de uma cidade grande o tempo parece voar. Tudo passa ligeiro. Ninguém tem tempo pra nada. Já o agricultor planta e espera. Os dias são longos. As semanas se arrastam. Um mês é tempo que não acaba mais.
Você já viu um colono dizer que está estressado? O agricultor não se estressa. Ele planta e espera. Ele não fica angustiado com o grão que não germina, com a espiga que não aparece e nem com o fruto que não amadurece. Ele sabe que no tempo certo, com as condições favoráveis, a colheita estará garantida. Outra coisa que não costuma preocupar o agricultor é saber como todo esse processo de germinação e crescimento acontece. Ele consegue conviver com esse fenômeno com uma naturalidade incrível.
O que tudo isso tem a ver com o Reino de Deus? Para Jesus tem tudo a ver: “O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra...” (Marcos 4. 26-29).
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