Tem coisas do passado que não lembramos mais. Outras surgem em determinados momentos em nossas lembranças quando achávamos que jamais nos lembraríamos novamente. Impressionante como algumas coisas simples podem despertar a memória: uma paisagem; uma pessoa estranha que vemos passar; o cantar dos pássaros; uma música antiga que chega a ser capaz de nos arrebatar para os detalhes de um tempo que ficou pra trás; um cheiro... Tantas coisas capazes de despertar a nostalgia!
Dizem que a saudade é uma palavra da Língua Portuguesa que não tem igual no mundo em sentido, em significado ou força. Mesmo assim, talvez não se encontre no mundo alguém que jamais tenha experimentado esse sentimento misterioso. Saudade está geralmente relacionado ao passado. Como teria dito Pablo Neruda, o poeta chileno que ‘morreu de tristeza’: “Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida...” Às vezes, porém, a saudade parece despertar algo que nos permite um vislumbre do que ainda não vivemos. Nas palavras de Renato Russo, “saudades de tudo que ainda não vi”. Uma saudade do futuro que tem relação com o passado. Não com o meu passado. É algo maior que eu.
Na história da humanidade perdemos algo. A saudade do futuro é algo que resta da origem que foi maculada. É saudade de algo porvir, porque não há retorno. A vida humana não é cíclica. Se “a saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar” (Rubem Alves), não se trata de um voltar no tempo. Não como no ‘nosso’ tempo cronológico. Em As Confissões, num texto intitulado Louvor e Invocação, Agostinho reconhece o grande poder e sabedoria de Deus. A revelação da grandeza e amor divinos, desperta algo em nós: “o homem, pequena parte da tua criação, deseja louvar-te. Tu mesmo o excitas a isso, fazendo com que ele se deleite em te louvar, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso”. O que seria a saudade se não um coração inquieto?
Essa saudade inquietante me permite concordar com Neruda quanto ao passado e, até, quanto ao presente. Mas, só a ‘saudade do futuro’ é que me faz lembrar de novo o convite: “Venham, pois tudo já está pronto” (Lucas 14. 17). A saudade de casa não me afunda na nostalgia deprimente. Ela me enche de esperança. A esperança permite olhar o futuro como um convite aberto. Pois “Deus existe para tranquilizar a saudade” (Rubem Alves).
Um comentário:
Adorei o Post!Muito lindo...
Eu estava escutando uma música e comentei com um amigo que algumas músicas me fazem sentir "saudade do que ainda virá" e resolvi procurar no google se havia alguma música ou texto que tivesse esse trecho. O primeiro que encontrei foi seu blog.
Muito bom, amei! :)
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