Uma tendência em muitas igrejas brasileiras é o crescente uso de ritos, objetos e alusões ao Antigo Testamento Bíblico. Não há dúvidas de que se trata de texto importante na compreensão do cristianismo e sem ele ficaríamos limitados no entendimento do propósito de Deus para a humanidade. O problema, no entanto, começa quando textos são interpretados para legitimar uma série de equívocos de forma proposital. O mercado religioso tem se inspirado no Antigo Testamento para criar imagens, rituais, fetiches, amuletos, campanhas, sacrifícios, fórmulas e todo tipo de produto que sirva para manter girando a roda do consumo religioso. Assim como se faz a escolha pelo Antigo em detrimento do Novo Testamento, também continua a seleção de livros, textos e versículos de acordo com a conveniência quando se utiliza, principalmente, os profetas e a lei de Moisés.
A Bíblia não é um livro para ser lido de maneira irresponsável. Não se trata tampouco de um livro de regras, mandamentos ou fonte de inspiração dos marqueteiros da fé. É claro que qualquer pessoa pode utilizar seu texto a bel prazer (e muitos o tem feito) para manipular a boa fé do povo menos informado. Por isso, Martinho Lutero já lutou no século XVI para que as Escrituras fossem traduzidas para a linguagem comum do povo e estivesse ao alcance de todos. Consequentemente, o movimento da Reforma contribuiu para o desenvolvimento da educação e de toda civilização ocidental, uma vez que para o povo ter acesso à Bíblia precisariam antes saber ler. Ainda hoje a igreja protestante mantêm instituições de ensino em todo o mundo prezando a educação. O acesso às Escrituras deve ser democrático, porém responsável.
Eis parte de um texto do Antigo Testamento que pode nos inspirar positivamente diante das aberrações religiosas dos nossos dias: “’Para que me oferecem tantos sacrifícios?’, pergunta o SENHOR. ‘Para mim, chega de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos. Não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes! Quando vocês vêm à minha presença, quem lhes pediu que pusessem os pés em meus átrios? Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembléias cheias de iniqüidade. Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais! Quando vocês estenderem as mãos em oração, esconderei de vocês os meus olhos; mesmo que multipliquem as suas orações, não as escutarei! As suas mãos estão cheias de sangue! Lavem-se! Limpem-se! Removam suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva. Venham, vamos refletir juntos’, diz o SENHOR” (Isaías 1. 11-18).
Nenhum comentário:
Postar um comentário