Na busca por um sentido na vida acabamos nos ocupando. Logo percebemos que o fazer pode levar ao ter. Quanto mais trabalharmos, mais posses nós conseguiremos adquirir. E, como os bens de consumo parecem não se esgotar nunca, mais precisaremos trabalhar para continuar adquirindo. Logo estaremos com uma bela casa cheia de tralhas de última tecnologia e, com um carrão na garagem sendo invejados por muitos. Para manter tudo isso: trabalho, correria e ativismo.... Temos muito e não desfrutamos de nada. Trabalhamos para ter. De tão ocupados vivemos como se nada tivéssemos. A mesma coisa acontece com a busca incessante por conhecimento. Quanto mais achamos saber mais descobrimos que existe por aprender. Alguém pode passar a vida estudando e pesquisando sem experimentar se todo aquele conteúdo é viável no dia a dia. No fim sobra a sensação de ser importante e admirado pelos vários títulos. ‘Somos‘ muito, trabalhamos muito e temos muito... Seria esse o proveito que o ser humano pode tirar de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? (Eclesiastes 1. 3).
Atualmente a palavra vaidade é utilizada mais no âmbito da aparência. A indústria do entretenimento procura evitar ao máximo que a pessoa pense e levante grandes questionamentos sobre a vida. Muitos se contentam com o ‘me engana que eu gosto’. O problema estoura mesmo quando cansamos do ópio, quando um acidente ou doença nos prendem, quando uma esperança em alguém é frustrada, quando ‘não tem nada prá fazer’... O problema são aqueles chatos que sempre nos lembram de que “tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Eclesiastes 2. 17). Eles compreendem a vaidade como algo relacionado com questões mais essenciais da vida. A vaidade a que se refere o autor em Eclesiastes que também pode ser traduzido por ilusão. Mas, afinal, qual o problema em se viver uma ilusão? Numa cena da trilogia Matrix encontramos o personagem Cypher falando com o agente Smith: “Sabe, sei que este bife não existe. Sei que quando eu o coloco na boca, a Matrix diz ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Após nove anos sabe o que percebi? A ignorância é maravilhosa”. Anatole France teria dito que “a ignorância é a condição necessária da felicidade dos homens”.
Se até mesmo pensar e escrever tudo isso é vaidade, o que restará? Eclesiastes é fruto das reflexões de Salomão, que – após viver de tudo e desfrutar de tudo, depois de alcançar o trono de Israel, poder e riquezas – conclui que a vida não passa de “vaidade”. Mas, não se trata da palavra final. Este pensador, aparentemente tão mal-humorado, termina o livro de forma surpreendente: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, porque isso é o essencial para o homem” (Eclesiastes 12. 13). Parece que existe mesmo uma espécie de pílula vermelha!
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