
Atualmente a palavra vaidade é utilizada mais no âmbito da aparência. A indústria do entretenimento procura evitar ao máximo que a pessoa pense e levante grandes questionamentos sobre a vida. Muitos se contentam com o ‘me engana que eu gosto’. O problema estoura mesmo quando cansamos do ópio, quando um acidente ou doença nos prendem, quando uma esperança em alguém é frustrada, quando ‘não tem nada prá fazer’... O problema são aqueles chatos que sempre nos lembram de que “tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Eclesiastes 2. 17). Eles compreendem a vaidade como algo relacionado com questões mais essenciais da vida. A vaidade a que se refere o autor em Eclesiastes que também pode ser traduzido por ilusão. Mas, afinal, qual o problema em se viver uma ilusão? Numa cena da trilogia Matrix encontramos o personagem Cypher falando com o agente Smith: “Sabe, sei que este bife não existe. Sei que quando eu o coloco na boca, a Matrix diz ao meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Após nove anos sabe o que percebi? A ignorância é maravilhosa”. Anatole France teria dito que “a ignorância é a condição necessária da felicidade dos homens”.
Se até mesmo pensar e escrever tudo isso é vaidade, o que restará? Eclesiastes é fruto das reflexões de Salomão, que – após viver de tudo e desfrutar de tudo, depois de alcançar o trono de Israel, poder e riquezas – conclui que a vida não passa de “vaidade”. Mas, não se trata da palavra final. Este pensador, aparentemente tão mal-humorado, termina o livro de forma surpreendente: “Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, porque isso é o essencial para o homem” (Eclesiastes 12. 13). Parece que existe mesmo uma espécie de pílula vermelha!
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