Quando o assunto é fé muitas pessoas concordam que melhor mesmo é não discutir. Talvez isso ocorra devido a intolerância crescente somado à ignorância sobre um assunto. Se eu não conheço, não poderei argumentar a favor daquilo que creio. A arte de refletir envolve uma certa lógica no raciocínio. Quando falamos deixamos transparecer aquilo em que acreditamos. E, isso pode revelar muito de nossas incoerências. Estas, uma vez confrontadas, podem não se sustentar. Assim, com medo de perdermos a nossa fé, preferimos o silêncio, o recolhimento, os chavões. Privatizamos a fé. Além da religião, futebol e política também não se discutem!
No Brasil ainda desfrutamos de relativa liberdade religiosa. Algo importante e que precisa ser cultivado. Nenhum tipo de intolerância contra seres humanos é justificável. Quando argumentamos e nos expomos com nossas idéias, é exatamente isso o que fazemos: debatemos idéias. Nossas inseguranças e imaturidade facilmente nos fazem levar as coisas para o lado pessoal. Não demora até que um debate que começou com uma divergência de idéias e formas de pensar se perca em ofensas pessoais. Na falta de argumentos adotamos a estratégia de desqualificar o outro. Procuramos na sua fé, na sua história, na sua aparência, na sua formação, enfim, na pessoa algo que a desqualifique. Quem nunca ouviu frases do tipo: 'tinha que ser português mesmo!'; 'você é crente, né!?'; 'homem é tudo igual!'; 'olha só quem está falando!'; 'mas como você é burro!' São frases típicas que visam colocar um ponto final. Identifiquei algo no outro que não o faz digno de consideração. Um absurdo!
Talvez essa fuga das discussões e dos debates tenha os seus dois lados. Revela a falta de profundidade e coerência das idéias e, também, contribui pra que não haja mais confronto, aprofundamento, discernimento e crescimento mútuo. Afinal, nosso tempo é marcado também pela competição. Logo, tendo a ver quem pensa diferente como um oponente, um adversário a ser vencido e nunca alguém com quem eu posso aprender. Talvez isso ajude a explicar o sucesso dos blogs, twitter, facebook e tantos sites de relacionamento. São monólogos, canais de escape, maneiras de dizer algo sem olhar nos olhos de ninguém. Posso dizer tudo sem ser interrompido. Se alguém discordar não vai se manifestar. Se houver manifestação eu posso moderar. Se não der para moderar eu posso reagir com indiferença. A tela não sua, não ruboriza, não gagueja, não ouve, não vê, não chora, não ri... E quem discordar é por que é bobo!
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